Começou a Escola São Paulo de Ciência Avançada “Co-criando avaliações de biodiversidade”. Foram mais de 450 inscrições que resultaram na seleção de 57 participantes vindos de 22 países em quatro continentes. São pós-graduandos, pesquisadores em início de carreira, gestores e técnicos da área ambiental que estarão reunidos nos próximos 14 dias em São Pedro (SP) para discutir como tornar o conhecimento acadêmico sobre biodiversidade mais prático para a tomada de decisão.
O dia iniciou com apresentações de Mariana Cabral (USP) sobre a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP) e sua relevância no financiamento de pesquisas no Estado de São Paulo e no Brasil. Cabral apresentou as linhas de fomento tanto para internacionalização da pesquisa quanto para biodiversidade, com especial destaque para o Programa Biota/Fapesp que completou 25 anos. Ao longo deste período, o Programa Biota abarcou 384 projetos que, até o momento, incluíram mais de 4 mil pesquisadores e de 6 mil publicações (entre artigos e capítulos de livro). Por fim, Mariana Cabral apresentou o projeto Biota Síntese, que reúne pesquisadores, gestores e sociedade civil com o objetivo de subsidiar políticas públicas voltadas à sustentabilidade em áreas urbanas e rurais do Estado de São Paulo. Desde 2022 o projeto já gerou três notas técnicas: sobre biomassa de carbono no estado, sobre diferentes arranjos financeiros para o financiamento da restauração de ecossistemas e o desenvolvimento de estratégias para a implementação do Plano de Ação Climática do estado.
Marisa Mamede (CNPq) apresentou as iniciativas em biodiversidade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência nacional de financiamento à pesquisa e suas iniciativas no financiamento da pesquisa ambiental. O programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD) completou 27 anos. Ao longo deste período, o PELD foi se aprimorando incluindo aspectos relacionados à gestão de dados e às contribuições diretas para a gestão ambiental . Além disso, ao longo dos anos, foi identificada a necessidade de se criar uma iniciativa para produzir sínteses do conhecimento já produzido no país. Assim nasce o Centro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – O SinBiose. O SinBiose foi criado para tratar de problemas complexos e interconectados como a emergência climática, a perda de biodiversidade, a soberania alimentar e as doenças tropicais negligenciadas. Ao fim, Marisa Mamede destacou alguns dos desafios da criação de um centro de síntese como este, que busca trabalhar na inter e transdisciplinaridade, em especial, o papel das agências de financiamento na promoção da cocriação e no incentivo à tomada de decisões baseadas em evidências.
Rodolfo Dirzo (Universidade de Stanford, EUA) discorreu sobre o tema “Biodiversidade no Antropoceno – Consequências para Interações Bióticas e o Bem-Estar Humano”, explorando as conexões entre biodiversidade, interações ecológicas e o bem-estar das sociedades humanas em uma era marcada pelo impacto humano. Dirzo explorou diversos aspectos relacionados à defaunação e como este efeito reverbera em todo o ecossistema. Um exemplo marcante apresentado pelo pesquisador envolve ratos e coqueiros de Atol de Palmyra no Pacífico Central. A invasão de ratos e de coqueiros na ilha gerou uma cascata de efeitos negativos na composição das espécies nativas, impactando a estrutura da floresta local e os locais de pouso de aves, que não nidificam nessas árvores. A defaunação, por consequência, afetou negativamente os ecossistemas costeiro e marinho.
O dia encerrou com a apresentação de Thomas Lewinsohn, coordenador da Escola, sobre as expectativas para este período. Para o pesquisador, há um desencontro entre a produção de conhecimento e seu uso prático, sendo que uma das propostas centrais da Escola é promover uma integração desses conhecimento, aprimorando o alinhamento entre criação e aplicação prática das informações. Para isso, Thomas Lewinsohn ressalta a importância de criar um ambiente colaborativo, onde as pessoas possam trocar ideias livremente e trabalhar juntas, sendo essencial que as percepções obtidas sejam aplicadas em problemas reais, que as experiências sejam compartilhadas e que novas parcerias sejam formadas. Além disso, o pesquisador frisou que o conhecimento gerado ao longo da Escola deve ser organizado com uma linguagem prática e formatos que facilitem seu uso e entendimento para todos os envolvidos.
Foto: Studio ArtVisão