Cobrir lacunas de conhecimento, investir em comunicação científica para apoiar a tomada de decisão e desenvolver novas ferramentas financeiras são alguns dos caminhos apontados por especialistas para impulsionar a preservação da biodiversidade.
por Paula Drummond
A integração entre ciência, políticas públicas e setor privado surge como caminho essencial para impulsionar a conservação da biodiversidade. Especialistas destacam a necessidade de preencher lacunas de conhecimento, investir em comunicação científica e criar ferramentas financeiras inovadoras para garantir a proteção de espécies e ecossistemas. Durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada, realizada em São Pedro (SP), pesquisadores e gestores de 22 países debateram estratégias para alinhar ciência e tomada de decisão, com foco em populações vulneráveis e no papel do setor privado na preservação ambiental.
Conservação às margens das políticas
Cristina Leite-Banks, pesquisadora do Imperial College de Londres (Reino Unido), destacou a importância das populações de espécies que vivem nos limites de sua distribuição geográfica, conhecidas como espécies periféricas. Essas populações, embora possam ser cruciais para a persistência de uma espécie em longo prazo, são particularmente sensíveis a ameaças como o desmatamento e as mudanças climáticas.
Segundo a pesquisadora, as populações de borda de distribuição enfrentam condições ambientais mais extremas e apresentam menor diversidade genética, o que as torna mais vulneráveis. Utilizando dados de aves nas Américas, Cristina demonstrou que fatores bióticos, como competição e predação, têm maior influência na sensibilidade dessas populações do que fatores abióticos, como a temperatura. Apesar de sua relevância ecológica, essas populações são frequentemente negligenciadas em pesquisas e políticas públicas. Cristina reforçou a necessidade de estudos mais aprofundados para orientar estratégias de conservação que considerem os desafios únicos dessas espécies.
Ciência e política: uma parceria essencial
Carlos Scaramuzza, do Instituto Internacional da Sustentabilidade (IIS), destacou o papel crucial da ciência na formulação de políticas públicas de conservação. Ele criticou o caráter reativo da ciência, que muitas vezes é consultada apenas em momentos de crise, resultando em oportunidades perdidas para a implementação de políticas mais eficazes.
Para mudar esse cenário, Scaramuzza defendeu o engajamento proativo de cientistas nos debates políticos desde o início, além da criação de espaços de diálogo e colaboração entre pesquisadores e tomadores de decisão. Ele ressaltou a importância da comunicação científica como ponte entre esses dois mundos, traduzindo conhecimento complexo em informações claras e acessíveis. Outra recomendação foi o fortalecimento de equipes técnicas nos órgãos governamentais, garantindo uma base sólida para decisões sustentáveis e bem fundamentadas.
O papel do setor privado
No setor privado, instrumentos financeiros inovadores são apontados como ferramentas essenciais para estimular a proteção ambiental. Um exemplo são os Créditos de Biodiversidade, mecanismo que avalia os impactos positivos e negativos na biodiversidade gerados por diferentes usos da terra. Para obter essa certificação, é necessário cumprir critérios específicos que garantam benefícios ambientais.
“Apesar das discussões ainda estarem em estágio inicial, acredito no potencial dos Créditos de Biodiversidade como uma ferramenta poderosa para restaurar e proteger a natureza”, afirmou Roberto Klabin, fundador do Refúgio Ecológico Caiman, localizado no Pantanal. A propriedade combina atividades como pecuária extensiva, ecoturismo, pesquisa e preservação ambiental. Klabin destacou, no entanto, a necessidade de maior clareza sobre métricas e precificação para viabilizar a adoção em larga escala desse mecanismo.
Sobre a Escola São Paulo de Ciência Avançada
Organizada pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia da Unicamp, com apoio da Fapesp, a Escola São Paulo de Ciência Avançada “Co-criando Avaliações de Biodiversidade” reuniu 57 participantes de 22 países, incluindo pós-graduandos, pesquisadores em início de carreira, gestores e técnicos da área ambiental. Durante 14 dias em São Pedro (SP), os participantes discutiram formas de integrar conhecimento acadêmico e prático sobre biodiversidade, com o objetivo de subsidiar tomadas de decisão mais eficazes e sustentáveis.