A Escola São Paulo de Ciência Avançada “Cocriando Avaliações de Biodiversidade” aconteceu no início de novembro e foi organizado pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia da Unicamp
por Érica Speglich
Durante 14 dias, 57 pós-graduandos, pesquisadores em início de carreira, gestores e técnicos da área ambiental vindos de 22 países ser reuniram na Escola São Paulo de Ciência Avançada “Cocriando Avaliações de Biodiversidade” para discutir e propor a integração entre conhecimentos acadêmicos e práticos sobre biodiversidade para subsidiar tomadas de decisão.
“Um dos maiores desafios enfrentados hoje é o desencontro entre a produção de conhecimento e sua aplicação prática. A proposta central da Escola foi justamente promover essa integração, criando um ambiente colaborativo e interdisciplinar”, destacou o coordenador do evento, Thomas Lewinsohn, professor emérito do Instituto de Biologia.
Durante a primeira semana do evento, os participantes assistiram a palestras e mesas redondas e apresentaram seus trabalhos. Na segunda semana, eles se organizaram em grupos para desenvolver soluções para demandas reais trazidas de suas próprias experiências e interesses. Por exemplo, a criação de estratégias de conservação para polinizadores, identificação de técnicas simples e acessíveis para o monitoramento da restauração de ecossistemas e a discussão de diretrizes para a criação de créditos de biodiversidade que integrem instrumentos financeiros sustentáveis e contribuições para a conservação da biodiversidade.
Entre os produtos esperados estão Notas Técnicas, Guias e materiais voltados a públicos não acadêmicos, como gestores e comunidades. Para Simone Vieira, pesquisadora do NEPAM e vice-coordenadora da Escola, essa abordagem prática é essencial: “queremos que o conhecimento gerado nesse período seja acessível e aplicável a todos os envolvidos, não apenas à academia”, afirmou.
Impactos para a pós-graduação
Simone Vieira enfatizou, ainda, o impacto do evento no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Unicamp. Segundo ela, “a Escola reuniu docentes afinados com a temática do evento que, de outra maneira, não estariam trabalhando juntos. Fazer essa construção conjunta aproximou as pessoas e isso tem bastante impacto em um Programa de Pós-Graduação”. Além disso, a pesquisadora destacou a oportunidade única dos alunos do Programa não apenas participarem, mas também apoiarem a organização do evento. “O convívio com pessoas de diferentes lugares do mundo e culturas proporciona um grande amadurecimento”, comentou.
Para Aline Vieira Silva, doutoranda em Ecologia pela Unicamp e tutora no evento, a experiência foi um aprendizado abrangente. “Foi a primeira vez que eu participei de uma organização de um evento deste tamanho e foi bom ter a experiência de acompanhar essa organização não só na parte intelectual, mas de todo o processo que é necessário para fazer um evento dessa escala”, relatou. A troca de ideias entre participantes de diferentes experiências profissionais também foi destaque: “eu tenho experiência de pesquisa com ecologia clássica e vemos pouco essa interação da pesquisa acadêmica com outras áreas como o setor privado e o governo. Está sendo interessante ter essa experiência de discussão e produção de materiais que podem ser úteis não apenas para a academia”, comentou Aline Vieira.
Um encontro global e interdisciplinar
Metade dos participantes da Escola eram brasileiros e metade de outros países do mundo. “Procuramos selecionar os participantes levando em consideração a igualdade de gênero, minorias e etnias, bem como a formação de uma turma com uma rica diversidade de origens, experiências e países”, ressaltou Thomas Lewinsohn.
Para Ezequiel Chimbioputo Fabiano, da Universidade da Namíbia, a Escola trouxe insights diretamente aplicáveis ao seu trabalho com monitoramento de biodiversidade no contexto da Convenção sobre Diversidade Biológica: “os conceitos abordados, tanto teóricos quanto práticos, serão incorporados no meu projeto e nas minhas aulas, enriquecendo a formação dos meus alunos”, disse o jovem-pesquisador.
O evento não apenas visou fortalecer redes de colaboração internacional, mas também incentivou uma abordagem mais inclusiva e prática da ciência da biodiversidade, como comentou Lucas Ferreira Lima, pesquisador colaborador do Instituto de Economia da Unicamp, que pretende avançar com métodos que busquem avaliar os benefícios das pessoas para a natureza. Uma proposta complementar ao conceito de serviços ecossistêmicos, que avalia o inverso: o benefício da natureza para as pessoas. A proposta considera tanto a conexão emocional das pessoas com a natureza (chamada de Biofilia) quanto sua importância para a economia e a sustentabilidade (a Economia Ecológica). “Como resultado desta Escola, juntamente com outros seis pesquisadores do Sri Lanka, Índia e Brasil, estamos propondo um método para avaliar as Contribuições das Pessoas para a Natureza, alinhando as perspectivas da Biofilia e da Economia Ecológica sob a orientação da pesquisadora e palestrante Robin Chazdon da Universidade de Connecticut (EUA)”. Ao reconhecer e promover a conexão entre o homem e a natureza, o grupo propõe que as pessoas possam se tornar atores principais na preservação, restauração e co-gestão de sistemas naturais.